Poesia

Como qualquer escritor
Espero ter uma morte digna de relato
Encenada, previamente pensada
Ou poderia correr o risco de nínguem me recordar
Quero
Que suba o pano,e haja aplausos e sorrisos...
Talvez pelo cenário, talvez por mim
Quero
Que a peça comece, e o silêncio invada a sala
Talvez pelo cenário, talvez por mim
Que se espantem e interroguem
Talvez pelo cenário, talvez por mim
Não quero intervalos!
Não os tive na minha vida
Quero
Que o pano desça e chorem de alegria
Haverá na realidade este poder?
Afinal uma antítese
Será sempre isto
Como conseguem eles chorar de alegria?
Choram por me perder...
Alegram-se por me pensar...
No meio de aplausos, sorrisos, lágrimas
Não quero subir novamente o pano
Não existe um bis na vida
Talvez exista
Uma vida para além desta
Diferente...
Mas nesta segunda vida
Não quero que me recordem
Não quero que me leiam
Não quero que me chamem
Isso vão ter que fazer agora
Enquanto eu quero
E enquanto, posso ouvir-vos

Ana Filipa Martinez